sábado, 19 de abril de 2008

Falar de MPB é com ele mesmo

Em seu futuro trabalho José Roberto Santos Neves vai radiografar o movimento musical contemporâneo capixaba

Apaixonado por música e com uma vasta experiência no meio cultural, ele esbanja simpatia e humildade quando o assunto é a Música Popular Brasileira, a MPB. Editor do Caderno Dois do Jornal A Gazeta, José Roberto Santos Neves é um jornalista que já entrevistou artistas de renome nacional e internacional. Com 12 anos de carreira já lançou uma biografia da cantora Maysa e um livro com as principais entrevistas realizadas com nomes consagrados da MPB para o Caderno Dois conseguidas enquanto repórter do diário.

Na coletiva concedida aos alunos do 5º período de jornalismo da Faesa, no último dia 4, ele contou um pouco sobre sua trajetória, suas paixões e os seus planos para o projeto de escrever uma radiografia sobre o movimento musical contemporâneo do Espírito Santo. Além disso, o crítico musical e escritor censurou a ausência do contexto social e a falta de poesia no repertório dos grupos capixabas.

Formado em Jornalismo pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em 1996, Santos Neves diz que a paixão pela comunicação e pela música vem de berço. “Cresci em um ambiente literário, com meu pai, avô, tios e irmãos envolvidos com a cultura e com a música”.

Ele lembra que começou a atuar na área como estagiário do jornal A Gazeta. No decorrer do estágio desenvolveu sua carreira por meio de seu projeto de graduação, o Fanzine, uma página voltada para o público jovem, que foi aprovada pela direção do jornal, na época, e que circula até hoje às quartas-feiras no periódico. Mais tarde, Santos Neves se tornaria editor do caderno de cultura de A Gazeta.

Sempre ligado ao mundo musical, o jornalista foi baterista de bandas de rock e blues, chegando a gravar um CD, em 2006, com a banda Big Bat Blues Band. E pelo seu conhecimento no meio artístico, Roberto foi convidado por Antônio de Pádua Gurgel, escritor e coordenador da coleção biográfica “Grandes Nomes do Espírito Santo”, para escrever a biografia da cantora Maysa. “A proposta veio em função da minha experiência com o ambiente musical. Buscamos algo inédito ao biografar a vida dessa musa da música brasileira. E biografia é uma grande reportagem, tem que se pesquisar bastante. O resultado é um trabalho gratificante”, ressalta.

Quando perguntado sobre a produção musical no estado e no país, Santos Neves critica a ausência do contexto nas letras das canções produzidas por grupos locais. O jornalista diz sentir falta de grupos politizados aqui no Estado, diferentemente do que acontece com grupos pernambucanos, como o Nação Zumbi. “Nesses grupos, existe uma riqueza lírica que passa por metáforas, aliterações de palavras e paródias. Isso tem muito no tropicalismo nas letras de Caetano e Gil. Aqui no Espírito Santo, existe uma limitação poética, o que acho preocupante. São letras que podem ir adiante, não só no sentido de protesto, estou falando da qualidade das letras de música e poesia. E, nisso, estamos deixando a desejar. Essa é uma das críticas que eu costumava fazer e que deixava os artistas irritados”, comenta.

Mesmo diante dessa carência literária contextual e poética, José Roberto observa a riqueza de estilos nas canções capixabas e conta sobre o seu desejo de produzir um livro sobre o movimento musical contemporâneo do Espírito Santo. “Quero fazer uma radiografia do movimento musical priorizando um gênero. É claro que não dá para abarcar tudo: samba, jazz, choro, rock, reggae e outros. Mas quero fazer um livro no formato ao estilo de Ruy Casto. Uma obra que conte a história da música do Estado, de maneira prazerosa, com os fatos engraçados e inusitados para mostrar que o Espírito Santo já fez história, e que ela precisa ser registrada. A tendência é pelo rock. Ainda não vai ser o samba, apesar de considerá-lo como símbolo da identidade do Brasil, será um trabalho que pretendo fazer mais adiante”, finaliza.

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