segunda-feira, 26 de abril de 2010

Liberdade sobre duas rodas

Dia desses conversava com um colega que é apaixonado por moto... 
O papo me fez lembrar algo que vivi durante algum tempo... 
Quando tudo acabou escrevi este texto que reflete as paixões e as angústias de uma vida sobre duas rodas

Sabe o que é sentir o vento contra o seu corpo permitindo a sensação de flutuar? Algo como ganhar asas a liberdade sem um destino certo, só com a adrenalina correndo nas veias... Tudo isso em cima de duas rodas...

A emoção é se sentir livre em um momento que te faz viajar e te leva a um mundo imaginário. Seus pensamentos voam solto ao vento. Em cada curva é preciso equilíbrio entre sonho e realidade, para que assim continue firme no seu caminho. Nas estradas há muitos obstáculos, mas com a permissão de um Ser Superior você pode ir muito além do que imagina.

Andar de moto é assim.  “Você só começa a tremer quando se chega em casa”, um amigo sempre me diz isso. E aí, você olha para o rosto do seu amigo e somente num olhar mantém a cumplicidade de um segredo que ficará guardado só entre vocês. É a travessura mais gostosa que dois jovens podem fazer. Algo tão inocente e ao mesmo tempo tão sonhado e tão premeditado.

Para muitos somos loucos. E não costumam compreender essa paixão por velocidade. Eu diria que adoramos nos aventurar para desbravar as belezas dessa natureza tão exuberante. Talvez seja uma das formas mais puras de entrar em contato com a Força que move todo esse nosso Universo. Sinceramente, ainda não sei como explicar em palavras.

O que posso lhe contar é que somos dois jovens que não usam jaquetas pretas de couro, mas que adoram sair com um destino incerto. Quando nos perguntam: “para onde vocês vão?”, a única resposta que nos vem à mente é: “por aí...”. É verdade, é por aí que vivemos as situações mais inusitadas.

Meu amigo é um jovem experiente piloto e eu sou... Bom, o pouco que entendo de moto é só na teoria. Apenas aproveitamos nossas afinidade e a paixão pelo motociclismo em algo mais do que um gosto em comum. Não temos regras, mas o respeito e a confiança entre nós são mútuos. Ah, apesar de ele ser irresistível como dizem minhas amigas, não somos e nunca fomos namorados, muito menos ficamos. O único pretexto que nos reúne é a paixão por motos.


Ser descontraído é um dos principais requisitos para se conquistar e garantir a nossa companhia. Se você é piloto deve saber a vontade insana de superar fronteiras, e logo depois parar em um ponto qualquer que te possibilite uma vista sem igual. Daquelas que você contempla o nascer ou o pôr-do-sol no seu mais puro momento.


Hoje andamos numa Honda CB 500. Mas o começo foi bem simples. De uma Dream c100, passando por uma CG 125 e uma CB 250. Ah, também é bom lembrar dos tempos da velha off-road Yamaha, uma moto de trilha que o meu parceiro tinha.

Quantas vezes o acompanhei em algumas expedições malucas pelo meio do mato, é claro que eu não ia na garupa de uma moto de trilha, o que fazia era dar suporte para qualquer eventualidade. E ao final, ele sempre chegava com aquela cara toda suja de terra, soltava um berro e vinha correndo para cima de mim me pegando no colo, dizendo: “lindinha, você viu o que eu fiz...?”...

Tudo bem que até já demos uma voltinha numa CBR 1100. Lembro que quando o ponteiro avançou os 200km/h, minha reação foi fechar os olhos e sonhar que estava voando. O risco de uma queda era, digamos, 99%. Não vou dizer quando ou onde isso aconteceu, se um dia minha mãe ler isso, nem sei o que ela vai dizer... Ou talvez, nem diga nada, porque ela sabe o quanto gosto de me sentir livre. Mas confesso que avançar a mais de 200 km/h numa pista lisa, deslizar em uma curva e sair ileso é algo para poucos.

O que importa para nós é alegria de estarmos livres para curtir belos momentos. Vejo o meu amigo como uma criança que não larga o brinquedo e que também não abre mão de um amiguinho para brincar. Nesse caso, uma amiguinha. Sim, brincamos. Já não somos mais crianças, mas não perdemos a essência de uma boa dose de traquinagens que resultam em gostosas, altas e sarcásticas gargalhadas.




Impressiona como essa máquina tem traços perfeitos. E fico intrigada porque ficamos em êxtase quando ouvimos o ronco dos motores. É um misto de admiração e espanto que causa estranheza. Às vezes a gente se pergunta: de onde vem essa paixão de querer sair de moto sempre que podemos? Não sei.


Lembro-me quantas vezes ao sair da escola meu amigo estava lá me esperando. Só dava tempo de ligar para os meus pais e avisar: vou me atrasar para o almoço. De surpresa a gente saia para passear pela beira mar até as falésias. Depois, mortos de fome, voltávamos para casa com as caras mais sapecas. Era algo tão simples, mas tão fabuloso.

Éramos literalmente livres. O vento no rosto, o contato à natureza, os caminhos incertos eram uma forma de lazer inconfundível que nos liberava de todo e qualquer estresse cotidiano. Que fosse uma voltinha de 10 minutos, mas era o tempo suficiente para recarregarmos as baterias. E tinha que ser só entre nós dois. Se andássemos com outra pessoa, quando nos encontrávamos sabíamos que a nossa sintonia era única. Não se comparava a nada e nem a ninguém.

Dizíamos que o nosso limite era o horizonte. Tínhamos um sonho de fazer uma longa viagem pelo Brasil. Mas essa história foi obrigada a ter um fim. Nossa união quase mística sobre duas rodas teve de ser aprisionada e lançada para bem longe.

Meu amigo descobriu que vai ser pai. Sua namorada o proibiu de me ver ou falar comigo. Eu vou me casar. Meu noivo não gosta de moto muito menos suporta algum tipo de aventura. Nem sei quando terei vontade de voltar a andar de moto.

Quem sabe eu desista dessa idéia estapafúrdia de querer casar, compre uma moto, aprenda a pilotar de verdade e saia pelo mundo sem destino e sem hora para voltar. 

Será que terei coragem?

quarta-feira, 24 de março de 2010

O baixinho cheio de marra

Faz um bom tempo que escrevi esse texto...  mas acho que vale compartilhar com vocês... Qualquer semelhança com o nome José é mera coincidência...


   Ele chega de mansinho como quem não quer nada. Arruma uma boa desculpa para conseguir conquistar de vez o seu alvo. Nossa! Calma, não exageremos. A verdade é que ele consegue seduzir a todos com seu jeito bem irreverente. Mas quem disse que o alvo dele são somente as novas amizades?

   O cara tem uma mira e esta é do sexo feminino. Principalmente, se for morena e do cabelo cacheado. Se souber dançar então, você certamente será inclusa na lista dele. E como ele sempre diz “pra mim não existe amizade entre homem e mulher, eu pego todas”. É fato que ele não consegue ficar com todas. Contudo, a gente o deixa falar porque isso faz bem para o ego dele. Aliás, machista como ele é, quem somos nós para contradizê-lo. Isso faz bem pra ele.

   Falando em machismo, o rapaz é ao extremo. Para ele quem manda na relação é o homem. Mulher não pode ter opinião, afinal isso fere os princípios de todo macho. Complicado, viu! O moço acredita que o domínio da vida está nas mãos deles, os leões. É assim que ele se considera.

   Você vai poder tirar prova disso se um dia puder dançar com ele. Ah, e só pode ser forró do tipo pé-de-serra, aquele lá de Itaúnas, litoral do Espírito Santo. Ele não dançava bem não, mas cantava de galo com o pouco que bailava. Todavia, nos últimos tempos teve uma boa evolução. É claro que conseguiu uma boa parceira para tal feito, mas será que ele admite isso? Hã?!

   Como dizia... Se você for dançar com ele, vai ouvir: “Você não pode me levar, deixa eu te conduzir... Quem manda aqui sou eu. Eu sou o leão, esqueceu?” E ai de você se disser o contrário... Certamente, se ele tiver tomado umas catuabas... Aí minha amiga, o melhor é deixar ele falar sozinho e pensar em outra coisa. Mas continue dançando e quieta, uma hora ele cala a boca e começa a perceber que estava dando um “pití” à toa.

   O problema é quando ele encontra alguém que tenha personalidade e convicções próprias. Isso o deixa tão atordoado que uma das maneiras que o rapaz encontra para chamar a atenção é implicar com a pessoa. Mas ele implica com tudo mesmo. E ainda consegue ver detalhes que você nunca se deu conta. Impressionante.

   Foi bom lembrar disso. Aliás, tiro o chapéu para esse moço porque ele enxerga na mulher coisas que poucos homens vêem. Se você corta o cabelo, ele vê; se pinta as unhas, ele comenta a cor do esmalte; e ainda vai falar dos seus vestidos; dos seus brincos; da sua postura, enfim, até que nisso ele é bom e nós mulheres adoramos tais elogios. Sem dúvida! Mas não dê muita confiança, caso contrário ele vai achar que você está apaixonada por ele. Mesmo que seja ele quem está se apaixonando por você.

  Como ele é convencido! O cara é um moreno baixinho e cheio de marra, mas tem um ego inflado até dizer chega, isso à primeira vista. É do tipo que fala que faz e acontece, sabe? Entretanto, é só você conhecê-lo um pouquinho mais e vai perceber o quanto carente ele é. Acredite, por trás daquela pinta toda tem um ser romântico que sonha encontrar um amor e construir uma família. Ele quer ter pelo menos uns cinco filhos. É apaixonado pelos sobrinhos. Daqui a pouco vai completar 26 anos e já se acha titio.

   Diz ele que não quer se prender a ninguém. Por isso sai distribuindo beijos e outras “coisitas” por aí. Parece que faz o tipo galinha. Coitado! Mas ele também não aceita você dizer que numa dessas pode perder a mulher da vida dele. Tudo bem, isso é problema do tal. Vamos deixar, então, o cara curtir a vida. Mas cá entre a gente, acredito que o rapaz já tenha sofrido alguma desilusão amorosa. E você vai ter certeza disso, quando ele disser que mulheres que são do tipo pra namorar enrolam o homem, terminam e depois fazem o cara sofrer até que vire um legítimo cafajeste. É, deve ser por isso, né!?

   Inteligente? Sarcástico? Brincalhão? Sedutor? Sim. Ele tem um pouquinho de cada. Mas por trás de toda aquela pinta de machão, ainda existe um menino. Ops... Não diga isso, ele não vai gostar. O temperamento dele é do tipo bipolar, na mesma hora em que se estar rindo ele pode jogar em você um monte de pedras.

   Contudo, sabe aquele moleque que você adora jogar um papo fora e dar boas gargalhadas? Esse é o Junior. Ah, mas aí ele vai te responder: “Muito prazer, José”!

domingo, 14 de março de 2010

Mimo do sul


Por que você tinha que estar lá?
Eu queria me divertir e ali não era o local que você poderia frequentar.  
Jamais poderia imaginar encontrá-lo.
Tinha perdido as esperanças, não acredito em contos de fadas.
Se me via dançar porque insistia em olhar para mim e me desejar o tempo inteiro?
Quando chegou avisei que queria apenas dançar, somente isso...

Agora me diga, o quanto antes, que sensação é essa?
Você não tinha o direito de tirar o meu sossego.
Qual o tempo para você se decidir?
Para onde vou?
Você vai querer tentar?

A distância nos separa
Sabemos que levaremos muito tempo para escalar essa montanha...
Se não tentarmos nunca saberemos se iremos conseguir chegar ao topo.
Talvez fiquemos perdidos por lá...
Estou na frente do mar e não consigo me achar.

Ensine-me a cavalgar
Quem sabe assim chegarei mais rápido.
Por que você não vem?

À noite, olhe para cima
Procure uma estrela e peça para ela me dar um sinal
Preciso de uma chance
Preciso acreditar que é possível te amar
Você ganhou essa chance, então aproveite

Meus pés estão na areia
Mas o mar insiste em me arrastar para longe de você
Aonde vou parar?
Existe um jeito certo para ver as coisas?

E aquele barulho? Aquele som?
De onde eram?
Todos aqueles lugares que encontramos
Não existem mais?

Mostre-me como tudo isso começou
Voe como um pássaro e venha até a mim
Preciso lhe ver
Não me importa se você é um plebeu
Já sou sua princesinha
Você me nomeou assim
Posso lhe transformar cavalheiro

Há ideais que você nunca descobrirá
Nem inventores poderão criar
Quando você me carregou no colo
Um sinal eu não pude entender
Talvez não tenha visto a luz que nos guiava

Queria acreditar que aquilo foi real
Mas estou confusa
Insisti para ficar e você partiu
Sequer veio me ver
Sua voz estava triste
E eu fui fria
Não sei como me desculpar

Você precisa acreditar que é possível

E aqueles sinais, o que eram?
O que significavam?
Algumas coisas você não pode inventar
Umas são feitas e outras transmitidas
Se pudesse ver e sentir, entenderia

Por favor, mostre-me como tudo isso começou
Preciso encontrar a resposta
Se eu pudesse ir
E se você puder vir
Quem sabe entenderemos

sábado, 13 de março de 2010

Severina quer se maquiar


Ela já passou dos 20, tem quase 30 e não vê a hora de chegar aos 40. Dizem que esta é a idade da loba e Severina acredita que nesta fase estará realizada profissionalmente. Mas Severina não sabe que a vida começa bem antes e que logo depois dos 20 é preciso cuidar do coração, do corpo, da alma e por que não da beleza que a natureza resolveu lhe presentear.

Mas a moça não sabe o que é beleza e não consegue enxergar suas qualidades. A única coisa que percebe são os seus defeitos e briga o tempo inteiro com ela mesma devido as auto criticas que surgem a todo o momento. Ah, ela reconhece que pode ser boa no que trabalha, mas ainda assim acredita que tem muito que melhorar. Sim, claro, conhecimento é algo que devemos adquirir para o resto da vida.

Severina está presa e não pode sair; não vai à rua; não se diverte; evita amigos... Enfim, vive isolada na busca de uma aventura que a faça sentir que valha a pena... Mas o quê essa moça quer? Nem ela sabe...

Diz ela que quer conhecer o mundo. Adora conversar e quando consegue fugir dessa clausura costuma ficar encantada com a diversidade cultural e étnica que encontrar fora da sua casa. Perdão, casa ela também não tem. Vive no mundo lua e de vez em quando desce na areia da praia para contemplar o nascer do sol frente à imensidão azul do mar.

Foi numa dessas descidas que Severina encontrou uma fada, em tempos atuais, diriam que é uma consultora de moda. Severina estava triste e desiludida, sempre se achou feia e a pior de todas... Para ela, o único atributo que tinha era sua mente pensante, mas bastava encontrar o primeiro obstáculo intelectual que era suficiente para se achar a mais inútil de todas as criaturas. Sua auto-estima sempre foi baixa e os seus medos a assombravam a todo instante.

Severina precisava resgatar o equilíbrio interno que a fazia viver e precisava acreditar que a harmonia nascia da beleza que trazia no interior e no exterior do seu corpo. A moça precisa encontrar a ponte para chegar ao bem-estar.

Percebendo isso, a primeira coisa que a fada fez foi tirar da maletinha, que carregava nas mãos, uma solução para tentar uniformizar a pele da garota, e assim foi corrigindo, aos poucos, todas as imperfeições que Severina tinha no rosto. A fada queria protegê-la e manter a naturalidade daquela mulher. Depois passou um corretivo em todas as olheiras e manchas que Severina tinha, resultado de muitas noites em claro ou de feridas conseguidas em suas fugas repentinas.

Severina queria redescobrir-se, mas tinha medo de ficar presa nesse sonho. A fada então jogou um pó que causou um efeito tão natural que deixou o rosto da moça livre de todos os males que a deixavam feia.

Mas Severina precisava de vida e um pouco de expressão no olhar. Sua visão foi realçada com uma leve sombra escolhida pela fada, ali estava um pouco da personalidade da moça e parte do seu espírito de alegria.

Contudo, ainda assim, faltava contornar e valorizar os olhos de Severina. Daí a fada puxou levemente a pálpebra superior para cima, foi traçando e esfumaçando com um lápis mágico o olhar mais encantador que a terra já viu. Mas esse olhar precisava de mais, foi então que alongou e curvou todos os cílios para que a luz do sol fosse peneirada até chegar a íris da moça e assim refletir a ternura daquele olhar.

Suas sobrancelhas eram fortes, faziam parte da sua personalidade. Só precisou de alguns retoques para corrigir algumas imperfeições que a deixavam muito séria e amarga diante da vida.

Severina gosta de falar e sua boca tinha um contorno muito desejável pelo sexo masculino. Mas Severina não sabia como fazer com que esses lábios fossem admirados. A fada aproveitou para aplicar levemente uma cor que apenas realçou o que Severina já tinha de bonito. Havia um vazio que precisava ser preenchido e que foi colorido com a vontade de continuar vivendo. Quem sabe sentir-se beijada por alguém que a ame de verdade. Mas isso, só o tempo irá dizer...

O rosto de Severina ainda precisava de cor. E com um blush na mão, a fada deu um leve toque com uma cor de saúde nas bochechas da garota. Severina que sempre evitou espelhos, nunca tinha se maquiado. Levou um susto ao descobrir a mulher que existia dentro de si.

Soltou os cabelos, agradeceu a fada e com um sorriso no rosto saiu satisfeita para se aventurar a explorar o mundo em busca de algo que deseja intensamente. Agora ela encontrou o que quer e sabe que pode conseguir.

A moça descobriu que pode ter uma casa com portas, janelas e uma varanda para continuar contemplando a lua, o sol e o mar...  

Com a maquiagem Severina não se escondeu do mundo. Fugiu do cárcere e agora quer continuar a se maquiar para ter forças, a ponto de desbravar as belezas do caminho que a espera antes de completar os 40 anos.

E você, já se maquiou hoje?

terça-feira, 2 de março de 2010

Uma moeda em troca de uma graça


Há mais ou menos duas semanas minha mãe me pediu para mandar celebrar uma missa em ação de graça para São José e a Sagrada Família. Mas, somente hoje fui procurar uma igreja para intencionar a benção alcançada. Confesso que sou um zero a esquerda para freqüentar grupos religiosos. Entretanto, lá fui eu com uma moedinha de um real atrás de um lugar que pudesse atender os anseios da minha mãe. Lembro-me que a última vez que fui a uma missa também foi por causa de uma graça alcançada pela minha genitora.

Pois bem. Adoro visitar igrejas, contudo desde que estejam vazias e façam parte de algum trajeto turístico que eu esteja desbravando. Fora isso, que a minha mãe me perdoe, se puder, viro a esquina e vou em direção ao senhor das águas. É no mar que costumo professar a minha fé e nas areias da praia que tenho vontade de pagar minhas penitências ou clamar pela boa vontade do universo. Já faz tempo que tenho pretensão de questionar ao camarada que move todas as forças do mundo o quanto ele deve estar de saco cheio de tanto ouvir o seu nome. Para tudo o povo grita chama por ele. É Deus pra cá, é Deus pra lá... Coitado... O cara tem que atender a todos e resolver tudo. Sim, inclusive a mim, que antes de entrar na igreja, me fiz a pergunta: “Meu Deus o que eu vim fazer aqui?”

Saí de casa. Andei umas quadras. Virei duas esquinas. Subi umas escadas e adentrei em um espaço amplo e iluminado. Que coisa moderna, ar condicionado. Quando era criança e frenquentava grupo de oração, catequese e afins só haviam ventiladores que sopravam labaredas de fogo durante o período mais quente do ano. Como as coisas mudam, né!? Tempos modernos. Deparei-me com meia dúzia de velhinhas corcundas maquiadas com pó de arroz, bochechas borradas de rosa choque, vestidos coloridos, colares de pérolas e sandálias anatômicas.

Segui pelo corredor na lateral e numa porta à esquerda avistei um senhor de cabelos brancos, com a pele muito enrugada, sentado de frente para uma mesa com uma caneta e um papel na mão. “Boa tarde senhor, por favor, é aqui que peço missa?”, pergunto. Responde-me ele: “Como minha menina, você quer intencionar uma missa?”.  Não é tudo a mesma coisa, pensei eu. Ele me disse que deveria procurar uma mesinha do lado esquerdo da porta de entrada. Não havia ninguém no local indicado. Sentei no último banco e esperei. Com o molho de chave em uma mão apertava na outra a moedinha de um real. E matutava: Deus lá quer dinheiro?

Sempre me questionei sobre isso. Você já parou para pensar o mundaréu de grana que esses cidadãos ganham em nome de Deus, Jesus, Cristo ou qualquer denominação que venha ter? Poxa, exploram o cara até dizer chega e nunca vi esse camarada sair com dinheiro no bolso, que dirá na cueca. Acho uma injustiça essa história de doar dinheiro para quem já tem. Oh, não quero discutir nem criticar religião. Já sei que essa história é antiga e o tal do dízimo está prescrito na bíblia. Tudo bem. Mas, já pensou se todo mundo pegasse o percentual do dinheiro que é depositado nessas casas de orações e passassem a depositar em oportunidades de desenvolvimento para acabarmos com a desigualdade social que existe no mundo, não seria bem mais aplicável?

Já tive uns arranca rabos com os meus pais quando era adolescente porque nunca concordei com essa história de dar dinheiro para quem tem. O que fazia era desviar alguma verba para ajudar alguém a aprender a ler ou dar de comida para alguma criança ou necessitado. Não sou fã de assistencialismo, mas, professo o bem-estar e a boa vontade para o desenvolvimento pessoal e profissional de forma sustentável. Talvez por isso um dia já quisesse ser freira para ser missionária e trabalhar pelo bem mundial. Depois desisti e fui para atuar no trabalho voluntário. Não preciso me abdicar de certas coisas da carne.

Mas voltando à igreja. Enquanto esperava na última fila, avistei três imagens de santos. Gente, vou matar minha mãe de vergonha,  não reconheci nenhum. Um era um franciscano com um livro na mão. A outra era uma imagem de uma linda mulher vestida de branco com um manto azul e a terceira era uma freira com um galo ou galinha aos pés. Ao lado direito tinha um presépio montado, desses bem tradicionais com umas luzes piscando, só para alertar que é tempo de natal. Nem preciso dizer que não suporto essa data. Mas não é por causa do menino que nasce nessa época não. Pelo contrário, sou fã dele pelo que foi enquanto esteve vivo. Foi um moço de muita boa fé, pena que foi embora cedo e não pude conhecê-lo para trocar uma ideia. Adoraria conversar com ele pessoalmente, já que não suporto esses fanáticos que vivem tentando refazer o mesmo caminho que ele. Que povo sem originalidade, né?!

Enfim, não gosto de natal porque é uma data que só pensamos em comer e comprar presentes. Que tédio! Eu detesto essa coisa de amigo x, secreto, seja lá o que for. Acho uma baita de uma falsidade. E ainda sou obrigada a comprar um presente para um indivíduo que nem vou com a cara. Ah não! E, como bem escreveu a Eliane Brum, eu também tenho medo de chester, uma ave que foi feita para ser comida nessa época que dizem ser de (re) nascimento. Definitivamente, não é pra mim. É bom lembrar que já fui criança e também acreditei em papai noel, mas o meu ainda é o meu pai. E também tenho mãe, tá.

Bem, ainda esperava por alguém para ofertar a moedinha... Até que aparece uma senhora que me diz que não haveria missa e sim confissão comunitária. “Confissão o quê?”. “Minha filha, você não conhece?”. “Não.” “Fique, você vai gostar. É um momento de pura reflexão consigo mesma.” Ok, vamos ver no que isso vai dar.

Olhei adiante e vi uma cruz de madeira no alto da parede. Lá estava a imagem de um camarada muito magro, com um pedaço de pano tapando as partes íntimas e algumas marcas vermelhas representando sangue. Admirei aquela imagem e me perguntei: Será que Cristo foi esse cara de pele tão clara, traços finos e delicados e do cabelo bom? Sei lá, tenho minhas dúvidas.

Minha vontade era de ir embora, contudo a consciência pesou e tive que ficar. Mas quem disse que a minha mente ficava quieta. Não demorou muito e a igreja estava lotada e de uma hora para outra virei informante de arquidiocese. Eu devo ter cara de santa, só pode. Eu nunca vi tanta velhinha chegar para me pedir informação, como se eu fosse de casa. Mal sabem elas o que sou. Uma estranha, talvez. É bem verdade que sou uma admiradora das pessoas mais velhas. É claro que isso tem uma explicação, nada é de graça. Amo me embebedar nas experiências de vida dos mais antigos. E eles tem, é claro, todo o meu respeito. Sou uma apaixonada pela eterna sabedoria de vida. Mas daí acharem que eu tenho cara de beata, me poupem, por favor.

Tentei rezar ou orar, pra mim é tudo a mesma coisa, mas quem disse que conseguia? Fiz o sinal da cruz, saiu um pai nosso e uma ave maria, depois comecei a conversar mentalmente com o que chamamos de Deus. Pode ser uma ofensa para muitos, mas não consigo conversar com ele chamando-o de vossa alteza, excelência e todos superlativos que existem para designá-lo... Se isso for pecado, sou a maior pecadora do mundo. Todavia, se ele for o meu inconsciente, deve ser o meu melhor amigo. Falo tudo rasgado e ele deve me entender do jeito que sou. Agradeço pelo meu dia e peço o que preciso, mas também penso e exponho um trilhão de coisas que acho certo ou errado. E assim vamos conversando, é claro que falo mais que escuto. Tem dia que ele deve querer falar comigo e eu nem tchum... Faço umas besteiras, depois peço desculpas e fazemos as pazes. Ao menos eu acho... É meu inconsciente e ele não precisa de moedinha para me atender.

Enquanto conversávamos, perguntava por que eu não era igual as outras pessoas que conseguiam se concentrar para ficar em oração. Minha cabeça ficava a mil, vários pensamentos inquietantes saltitavam a todo instante. Mas será que todo mundo ali estava rezando? Vá saber. Daí, resolvi pensar pelo lado bom... Quem sabe não sentaria ao meu lado um indivíduo de boa fé que pudesse me fazer companhia por alguns meses? Mas logo vieram a mente os modelos de homens que me relacionei nos últimos meses.  

Foram três decepções. Um era um poço de ignorância e machismo ambulante. O segundo era um tapado e abstinente de vida sexual. E o terceiro era um tarado sexual que eu mal podia chegar perto para conversar. Esse tipo de cara tem que entender que mulher adora um jantar romântico fora de casa e que quando sai não quer dizer que a noite vai terminar em um motel. Nada contra sexo, mas só isso não dá. Vai me dizer que você não deseja um homem inteligente, educado, cavalheiro, bom de cama e que se souber cozinhar será muito bem vindo? Hum! Eu quero um assim. Resultado: continuo solteira enrolando outros possíveis pretendentes pelo telefone ou e-mail. Odeio homem que pega no meu pé e que mal me conhece já me pede em namoro. Eu não sou santa e nem sou essa aí que dizem que é para casar. Não sei de onde tiraram essa história. Será que é porque não sou de sair e nem de ficar com qualquer um? Esse um, já deu para perceber que não sei escolher direito. Enfim...

Pois é Deus, vamos mudar de assunto. Falar de homem não vai dar certo. Vixe, o padre já entrou. Tem uma moça cantando ao lado de um arranjo com quatro velas lilás, três estão acesas e uma apagada. Será que foi o vento que apagou? Há duas senhoras no banco da frente. Uma é filha e aparentemente tem algum distúrbio mental. Depois de um carinho na mãe, tenta soltar uma risada que logo é repreendida pela matriarca dizendo: “Oh, Jesus vai brigar”. Coitada, deixa a mulher rir. Vamos ser feliz.

O padre começa o sermão. Pergunta como estou professando a minha fé. Sinceramente, não sei. Acho que sou uma pessoa desprovida de tal virtude. E você?

Mas aqui, não tem coisa pior do que tentar ir a uma missa e não conhecer nenhum cântico. Mas o pior mesmo é ouvir aquele barulho insuportável de teclado, desse tipo frenético que virou moda nas melodias de tecnobrega. Aaahhhrrrrr... Que coisa irritante! No meu tempo, na época em que cantava com o grupo de jovens, era violão, baixo, guitarra, bateria e o teclado, também, mas com um som bem mais original. Não gostei. Sem contar com a inovação de tentar juntar esse tipo de melodia com o estilo gregoriano... Uh, como doeu o meu ouvido.

“Absolvo de todos os seus pecados...” o padre diz. O quê? Absolvida de quê? Como assim? Mas eu nem terminei de conversar com Deus e o senhor diz que eu estou absolvida. Esperaí, você nem falou comigo. Antigamente, das vezes que fui obrigada a ir me confessar, o padre olhava nos meus olhos e depois que ouvia minhas abobrinhas mandava rezar tantas ave-marias, não sei quantos pai-nossos e algumas salve-rainhas... Éh, os tempos mudaram mesmo, e olha que eu nem tenho 30 anos. Imagine quando eu chegar aos 60? Serei absolvida em qualquer site de relacionamento pela internet. Já pensou nisso? Será que Deus também vai conversar comigo pelo msn ou por e-mail? Orkut? Twitter? Mais o quê? Vamos depositar as ofertas via cartão de crédito... Ops, isso já existe.

Seja lá como for, o padre já me abençoou e disse que era para ir embora com a benção de Deus.  Fazer o quê? Tenho que ir. Mas não vou sem o meu amigo imaginário. Na mão, a moedinha de um real. Que pena, ninguém quis recebê-la. Tudo bem, é tão pouco. Mas a minha mãe disse que não precisava ser muito, o que valia era a intenção. Ah, lembrei, da vez passada levei flores para Santa Rita.

Pelo visto vou ter que procurar outro dia que tenha missa para intencionar o dinheiro. Olho no quadro de avisos e a resposta: tem missa amanhã ao meio dia. Você vai?

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Você merece coisa melhor

  Provavelmente, em algum momento da vida, você já deve ter ouvido falar nesta célebre frase quiçá tenha reproduzido tal oração.

   Agora eu me pergunto: o que quer dizer merecer coisa melhor?

   Estou há algumas horas com essa pergunta na cabeça e como estou numa viagem de ônibus que tem a previsão mínima de 15 horas... Estava lendo uma dessas revistas da hi-society indicada, inclusive, por uma amiga muito fina, e pensava que se o mundo do glamour fizesse parte do meu cotidiano, com certeza, não chegaria ao meu destino com as nádegas quadradas... Bom, deixa isso pra lá, foi só um comentário.

   Nesta viagem vou buscar, num campo de batalha, sabedoria e conhecimento. Se sair viva de lá, ao menos minha patente profissional estará garantida por um bom tempo.

   Mas, voltando ao meu ocioso e precioso tempo, estava aqui matutando a quantidade de vezes que ouvi essa frase. É tão corriqueira, que já perdeu a graça. Aliás, eu mereço o quê, então?

   Mereço conhecer o mundo em suas particularidades, cada país, povo, nação, língua, cultura, etc.? Hum! Com certeza, isso eu quero merecer. Mereço o carro do ano, a casa dos sonhos, o sítio na região serrana, a cobertura de frente para o mar e tudo de material que o dinheiro puder comprar? Não, não mereço. Estarei contente se tiver um teto para dormir e um automóvel para andar. Até porque moradia fixa não faz o meu gênero.    

    Então, eu mereço aquele moreno, hetero, lindo, olhos verdes, corpo esbelto, alto, inteligente, ama música clássica e ainda gosta de mpb, pop e até rock. Adora viajar, dançar, vive nas nuvens, elegante, bem humorado, culto, sabe cozinhar e não quer ter filhos? Quem sabe aceite ser um bom e fiel companheiro, mas que respeite viver em casas separadas, cada um na sua.

   Não, acho que esse homem ainda não foi fabricado. Sinto muito em informar a mim mesma que esse ser não existe. Terei de conter a viver de uma ilude paixão platônica, quem sabe? Contudo, sonhar faz bem.

   Em se tratando de homens, o máximo que eu encontrei  foi um camarada com um humor questionável, mas de uma capacidade intelectual contagiante. É até provido de algumas características citadas acima. Não dava nada por ele, cheguei até achar que era gay. Mas não é que nesses últimos meses o cara tem me surpreendido e de vez em quando me pego sendo atraída por ele? Nessas horas a razão precisa falar mais alto e logo percebo que nada mais é que uma quantidade de hormônios em ebulição, dentro do meu corpo. Penso e ordeno: aquietem-se, sosseguem! Nem sempre eles obedecem, mas sei que isso passa. E outra, o sujeito demonstra ser possessivo, ciumento e ainda faz o tipo de cara pra casar. Aí já viu, né?! Prefiro não comentar.

   Mas daí alguém me dizer que mereço coisa melhor? Vem cá, e seu eu quisesse dar uns beijinhos nele, qual o problema? Não, porque tamanha perfeição acredito que não exista. Torra a paciência ouvir isso. Porque qualquer sujeito que aparece, logo alguém vem lhe dizer: “Nossa, você merece coisa melhor”.

   Já que é assim, vamos tentar escolher um que agrade... Mas agora eu tenho os meus poréns...

   Lembra do cavalheiro que pratica o esporte dos gentleman’s? Ih, não dá, ele tem o ego inflado demais. Ofusca qualquer mulher. Antes de descobrir tal defeito, cheguei a pensar em apresentá-lo para uma amiga (ele tinha uns sonhos que, definitivamente, não eram para mim). Mas não é que a bendita percebeu quem o danado era logo de primeira? É, a experiência dela falou mais alto.

   E aquele coroa bonitão que há 10 anos sempre lhe procura para dizer que ainda espera por você? Também não serve, ele já foi casado, tem um filho e quer casar de novo.

   Mas tem aquele carioca que é um legítimo cavalheiro e sempre diz que ainda é apaixonado por você... Ih, não dá. Ele mora em outro estado e quer casar...

   Xiii...

   Também tem aquele moreno dos olhos verdes da época da adolescência? Esse, nem pensar. É um tremendo cafajeste que vive rodando por vários países enganando diversas mulheres. E outra, ele também sonha encontrar alguém para um dia construir uma família...

   E aquele dos olhos azuis que sempre viaja com você? Ih, não sinto nenhum tesão por ele. É quase um irmão para mim.

   Tem, também, o seu ex... Ih, esquece. Ele é um ótimo marido e fanático por futebol. Cinco anos foram o bastante para saber que nascemos para sermos bons amigos.

   Mas tem beltrano, ciclano, fulano e por aí vai...

   Quer saber? Não existe homem perfeito e nem eu sou perfeita.

   Se você estiver com saco, pare e pense comigo. Será que merecer coisa melhor é a busca incessante pelo aperfeiçoamento da perfeição? Mas, venha cá, existe perfeição?

   Que mania é essa de buscar a felicidade plena em tudo? Vivemos uma busca obcecada por felicidade. Que paranóia é essa por manuais e livros de auto-ajuda? Deu-me a “nóia” de tanto me questionar: estou feliz? Fiz certo? Onde errei? Será que falei o que não devia? Estou sendo livre? Será que peguei pesado? E blá, blá e blá...

   E você, que perguntas faz a si mesmo?

  Está vendo? A gente fica o tempo todo atrás de respostas para tudo que fazemos e pensamos, principalmente, na vida a dois. Tenho a impressão de que a regra é: “você tem que estar bem e para isso você precisa de uma coisa melhor”.

   É aquela velha história de que o do outro é sempre melhor. Com você não deve ser diferente: você merece um emprego melhor, uma casa melhor, um carro melhor, um amigo, etc. etc. etc. E claro, um marido, amante, namorado, ah sei lá, qualquer coisa desse tipo... Mas que seja melhor.

   Dessa maneira, se o tempo inteiro precisamos de algo melhor, como vamos ficar?

   E afinal, o que é o melhor?

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Uma resenha... Edgar Morin?

MORIN, Edgar. As cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão. In:______. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Tradução: Catarina E. F. da Silva e Jeanne Sawaya. 4.ed. São Paulo: Cortez, 2001. p. 19 – 46.

Em “As cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão” Morin destaca os erros e as ilusões no processo de transmissão das informações. Aborda os erros mentais, intelectuais e argumenta os erros da razão.  Enfatiza a racionalidade como uma forma, diga-se, mais “real”, ou melhor, mais próxima, contra o erro e a ilusão. E ainda faz a diferenciação com o termo racionalização.  Além disso, apresenta os paradigmas que controlam o conhecimento científico que podem ser ilusões, ou seja, as cegueiras paradigmáticas.

No capítulo seguinte, “Os princípios do conhecimento pertinente”, o autor mostra que o conhecimento dividido impede a percepção do todo, reforça o argumento com questões do mundo, da multidimensionalidade, do contexto e da complexidade do global. Além disso, busca estabelecer relações entre as partes e o todo, em atenção a identificação da origem dos erros e das ilusões, considerando as diferenças e os problemas sócio-culturais existentes.

O erro e a ilusão são, para Morin, os norteadores da educação do século XXI. Os vários modelos do conhecimento acabam por “cegar” o próprio conhecimento do que é ser humano. Para isso, argumenta a necessidade de introduzir na educação o estudo das características mentais e culturais dos conhecimentos humanos como preparo para enfrentar os riscos permanentes de erro e ilusão.

            Essa necessidade de promover o conhecimento existe para compreender problemas globais e assim inserir os conhecimentos parciais. Para ele, a divisão do conhecimento em disciplinas peca por não apresentar um aprendizado do contexto e toda sua complexidade.  Morin ainda argumenta a necessidade de ensinar métodos que permitem estabelecer as relações entre as partes e o todo.

Os temas apresentados por Morin promovem um debate sobre a política educacional para a educação contemporânea de modo a refletir para o futuro. Os desafios apresentados norteiam a importância da educação respeitando as particularidades de cada aspecto sócio-cultural que existe no mundo.

Todo o tipo de conhecimento de certa forma evolui com o decorrer dos anos e das experiências, mas é fato que ao mesmo tempo que prediz certezas também revela incertezas. Daí a necessidade de ensinar o aluno (leia-se o homem) a racionar, estimular a imaginação, desenvolver a criatividade e propor meios que o incentivem na busca pelo conhecimento. De modo que o prepare enquanto cidadão do mundo; que conheça o seu espaço e o do outro e, assim, participe e critique as ideologias da sociedade. É bom lembrar que, essa compreensão também diz respeito à ética e à civilidade.

O que Edgar Morin pretende é fazer com que repensemos os atuais modelos de educação e propõe o rompimento da oposição entre natureza e cultura. Propõe ainda o reaprendizado do que é a parte e o que é o todo, superando os paradoxos existentes e promovendo um desenvolvimento de forma sustentável. O reconhecimento do outro estimula o saber viver com o diverso.

Além das cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão e os princípios do conhecimento pertinente discutidas nos dois capítulos iniciais, Morin apresenta ainda, no restante do livro, outros cinco saberes indispensáveis para a educação do futuro: ensinar a condição humana; ensinar a identidade terrena; enfrentar as incertezas; ensinar a compreensão e a ética do gênero humano. É perceptível a preocupação do autor com os caminhos que permeiam o conhecimento. Essa postura pode estimular a promoção da educação do futuro de uma forma mais democrática.

Morin cria reflexões acerca da educação para o século XXI e faz uma revisão das práticas educacionais da atualidade, apresentando os desafios e as incertezas. De um jeito genial e simples, Morin expõe maneiras acessíveis a todos que se interessam por um futuro mais solidário marcado pela construção do saber, do conhecimento. Assim, reforça que a bagagem cultural está na leitura de mundo e no pensar sobre que ela pode proporcionar.