segunda-feira, 14 de julho de 2008

Cotidiano


Acorda. Levanta. Alonga. Estica. Café. Dança. Caminha. Corre. Banho. Lê. Escreve. Preguiça. Canta. Esfrega. Lava. Enxuga. Seca. Passa. Cozinha. Almoça. Vai. Trabalha. Apura. Reporta. Edita. Publica. Volta. Soneca. Homem. Mulher. Desperta. Prazer. Sexo. Vontade. Desejo. Sonha. Ama. Nada. Casa. Separa. Paixão. Namora. Termina. Brinca. Ri. Chora. Balança. Libera. Prende. Solta. Seco. Molhado. Sol. Chuva. Frio. Calor. Praia. Céu. Mar. Ar. Voar. Fantasia. Deserto. Incerto. Perfeito. Passado. Presente. Futuro. Viaja. Pergunta. Resposta. Feio. Bonito. Cria. Bate. Luta. Forte. Confia. Saúde. Vida. Morte. Reflete. Ilude. Sofre. Eterno. Passageiro. Feliz. Impede. Certo. Errado. Melhor. Pior. Lamenta. Divino. Mistério. Liberdade. Repete...

Que nada, apenas a rotina.

É o fim. Quem disse?

Afirmar que os jornais impressos estão mortos é um exagero. Há uma especulação, assim como aconteceu na época do surgimento da televisão, quando acreditavam que seria o fim do rádio. E isso não vingou, porque as rádios continuam a todo vapor. O fato é que, com o surgimento de novas mídias, como a internet, existe uma necessidade de mudanças e adequações no jornalismo. Essas transformações são constantes, seja na forma ou no conteúdo.

Estratégias de integração do impresso com a versão on-line têm ganhado importância no cenário da comunicação. Fazer uso dos recursos multimídias e a participação do leitor na construção da informação pode ser uma saída para a manutenção da versão em papel. Mas, a preocupação vai além.

Os novos modelos de jornais ainda não são claros. Por mais que os cidadãos estejam envolvidos diretamente com o conteúdo, julgando ou fornecendo o mesmo, os jornais precisam apostar na profundidade e qualidade dos assuntos. É de extrema necessidade pensar em inovações e aproveitar as novidades tecnológicas, fazendo uso das mesmas para apuração dos fatos.

O bom jornalismo quem faz são os bons jornalistas. Parece redundante, mas são eles que precisam ir a campo para apurar as notícias e produzirem boas matérias. A internet oferece comodidade e agilidade no processo de lançar a informação. Entretanto, a análise e o texto mais aprofundado ficam por conta do impresso.

É bom lembrar que o prazer de folhear um periódico pela manhã, ter o contato com o papel, isso mesmo, manuseá-lo faz parte da nossa cultura. Além disso, receber as informações muito mastigadas não nos faz pensar e nem deixam nosso cérebro funcionar. Talvez, por isso, precisamos de um conteúdo com menos assuntos e mais analítico, focado na qualidade, sem superficialismo e muito menos sensacionalismo.

domingo, 13 de julho de 2008

As ruínas gritam por socorro - cont. GR Marataízes

O Palácio das Águias, patrimônio histórico, sofre com o descuido das autoridades e ainda é destruído por vândalos

A origem do município é compartilhada com o povoamento de colonos às margens do rio Itapemirim, datada do ano de 1539. Na região o escoamento de café e o contrabando de pau-brasil deram origem a diversos casarões. Hoje antigos casarios, a maioria em ruínas.


Na Barra do Itapemirim o antigo Palácio das Águias está esquecido em meio aos velhos barcos


No Porto da Barra, próximo à Igreja Nossa Senhora dos Navegantes, está a antiga mansão conhecida como “Palácio das Águias”, construída na primeira metade do século XIX. Ao lado, está o antigo armazém que servia para atender o escoamento de café e cana-de-açúcar. As construções foram feitas à base de pó de concha e óleo de baleia. É uma pena que restem apenas o esqueleto do armazém escorado por vigas de madeira e parte de destroços da mansão.

Enquanto fotografava o local conheci um carioca, pintor de barcos (por motivos particulares não posso citar a fonte). Ele me contou que atualmente o lugar serve, entre outras coisas, como ponto de encontro entre casais e pousada para moradores de rua. “Infelizmente esse patrimônio histórico virou motel; esconderijo de objetos roubados; lugar para reunião de viciados; casa, banheiro de mendigo e moradia para cachorros”, relatou.

É bem verdade que só consegui entrar nas ruínas acompanhada do rapaz que espantou os dois vira-latas que tomavam conta do lugar.

O carioca já mora na região há alguns anos e desde a infância convive nas proximidades das edificações. “Cresci ouvindo histórias que meu avô contava desse lugar. Dói para quem viu isso aqui inteiro, ver as condições em que está hoje. Os governantes dizem que vão fazer alguma coisa, mas o que vemos é isso aí, um descaso total”, reclamou.


"Infelizmente esse patrimônio histórico virou motel; esconderijo de objetos roubados; lugar para reunião de viciados; casa, banheiro de mendigo e moradia para cachorros"



Os moradores da região sonham com o antigo Palácio das Águias restaurado


O antigo Palácio começou a ser restaurado através de um convênio estadual, mas até agora parte da reforma prometida não saiu do papel. O pintor contou que alguns escombros foram levados ou quebrados por vândalos. E parte do piso de madeira que foi colocado já foi queimado.

“Isso aqui é um componente de nossa história. É triste ver que está indo tudo embora. É uma pena saber que o que vi não será visto pelos meus filhos, será somente contado em livros”, lamentou.

Vida de pescador - cont. GR Marataízes


O trabalho árduo no mar é motivo de orgulho entre os homens que vivem da pesca


O sol nem bem saiu e lá estão eles prontos para levar seus barcos para o mar. “Vou trabalhar, meu bem querer. Se Deus quiser, quando eu voltar do mar, um peixe bom eu vou trazer”. Como conta a letra da música “Suíte do Pescador” de Dorival Caymmi, o cotidiano desses pescadores é assim.

São homens humildes com muitas histórias para contar. É do mar que eles tiram o sustento para suas famílias. É também do mar, que tiram lições de vida para serem repassadas a futuras gerações.


Marciano contou que sai para pescar, mas nunca sabe se vai voltar


Nascido e criado na região, Sebastião da Silva, 58 anos, 44 dedicados à pesca, contou que está na profissão por que não teve outra escolha, mas não se arrepende dela. “Não tive estudo. Pesco o mínimo para sobreviver. E assim vou levando até a morte chegar. Quero morrer aqui trabalhando no mar”, revelou.

Apesar de não ter tido outra oportunidade, Silva quer proporcionar um outro futuro para o filho de 12 anos. “Não quero o mesmo destino para o meu menino. Quero que ele estude e entre para a faculdade”, ressaltou.

"Ser pescador é acordar de madrugada, ir para o mar e não saber se vai voltar"

As condições de trabalho são mínimas para os homens do mar. No barco de Marciano Marvila, 27, a cabine é minúscula com três camas, numa espécie de beliche. No mesmo espaço são guardados os utensílios de cozinha; objetos de higiene pessoal, de pesca e outros pertences do próprio barco, como ferramentas. Além disso, no meio do compartimento há o motor do barco, que praticamente toma todo o espaço. Ao lado da porta fica uma botija com a boca de um fogareiro. O lugar é precário, sujo e com um odor desagradável. Na lateral do barco a borda é muito baixa e o perigo de cair no mar é muito grande.

Marvila pesca desde os 14 anos e disse que é comum os pescadores usarem de algum tipo de droga para agüentar as péssimas condições de vida que têm em alto mar. “Ser pescador é acordar de madrugada, ir para o mar e não saber se vai voltar. Vivo da pesca. Sou casado, tenho dois filhos para criar. Só quem tem juízo guarda o pouco que ganha para viver bem”, assegurou.


Depois da pescaria, os homens do mar aproveitam para bater uma bolinha


Mesmo diante de todas as dificuldades, todos os pescadores que conversei compartilham do mesmo sentimento: amam a pesca e sabem que é dela que depende a sobrevivência deles. Uns, por um motivo ou outro, foram morar na cidade, outros nasceram e cresceram ali. Ao contarem suas histórias de vida, o linguajar e os trejeitos característicos desses homens envolvem e encantam os visitantes do local.

Para eles Marataízes é uma paixão, uma vida. A pesca é um meio de sobreviver. E como insistiu a catequista e zeladora da igreja Nossa Senhora da Penha, Desdediti Maria Vieira, 60, “a pérola pode perder a luz de um lado e pode até ganhar do outro. Mas, o seu brilho ninguém apaga”, destacou.

Uma aventura em duas rodas - cont. GR Marataízes


Três a quatros pessoas, esse é o número de passageiros que percorrem a cidade em cima de motocicletas


A caminho da Lagoa do Siri fui coadjuvante de uma aventura nada segura. Na região, a moto é o principal meio de transporte e trabalho para os moradores. Entretanto, o que assusta é a quantidade de pessoas que são transportadas naquele veículo de duas rodas. É comum famílias inteiras: pai, mãe e crianças em cima de uma motocicleta. A primeira vista qualquer um fica impressionado com o risco que essas pessoas correm.

Em Marataízes as conduções coletivas são precárias e os horários em que os veículos passam costumam ter intervalos acima de horas. O passageiro fica durante longos períodos a espera de um ônibus.

Durante uma abordagem a um jovem casal sobre os perigos daquele meio, fui convidada a me aventurar para o meu destino na garupa de uma moto com os dois. A moça, que prefere não se identificar, revelou que o veículo de duas rodas é o meio de transporte das famílias. “Não temos condições de ter um carro, os ônibus são ruins e demoram a passar. O jeito é a gente se virar com isso aqui”, respondeu a jovem.

Para fugir da fiscalização, o rapaz passa por lugares desertos rodeados de plantações de cana-de-açúcar, abacaxi, mandioca e côco. Essas vegetações movimentam a economia local. Nosso percurso é alternado de estrada de chão e asfalto novo. Apesar da região de planície, passamos por vales, o que aumenta a adrenalina levando a sensação de estar brincando em um tobogã.

"Não temos condições de ter um carro, os ônibus são ruins e demoram a passar. O jeito é a gente se virar com isso aqui"


Mesmo equipados com capacetes e com um piloto experiente, como se afirmou o moço, o risco de ocorrer um acidente é uma constante na vida dessas pessoas. Pelo visto, a punição a esses motoristas não deverá ser a melhor saída. O que se percebe é uma carência na melhoria da infra-estrutura do transporte local. Falta às autoridades tomarem alguma medida que proporcione melhores condições de vidas a aquele povo.

Você conhece caipixi? - cont. GR Marataízes


A bebida natural feita do abacaxi é simples e com um sabor dos deuses

Foi na Lagoa do Siri que conheci uma deliciosa bebida feita com o abacaxi, fruta característica da região. A iguaria é preparada na barraquinha de bebidas e artesanatos de Maria Luíza Machado da Silva, 44 anos, que nasceu e cresceu nas proximidades da lagoa.

Dona Maria contou que o sustento de sua família vem do que ela e o marido vendem na praia. “Meu marido faz cestaria e eu vendo aqui na barriquinha junto com a água de côco e o caipixi. Vivemos do que produzimos, assim construímos nosso lar e nossa família”, declarou.


Com um pedaço de cano de plástico serrilhado dona Maria Luíza prepara o caipixi


Para a vendedora, Marataízes tem um brilho que não se apaga. “Apesar de o movimento estar fraco, nossa cidade é bonita e o turista pode vir para cá conhecer muita coisa boa, como nossa lagoa e as outras praias que existem depois da central”, recomendou.

"A bebida pode ter álcool ou não, depende do gosto do freguês"

Enquanto conversávamos envolvidas numa gostosa brisa de fim de tarde, dona Maria Luíza preparou um caipixi para eu provar. “A bebida pode ter álcool ou não, depende do gosto do freguês”, orientou. No meu caso, foi natural.

Em um abacaxi pequeno, Maria da Silva fez um corte próximo ao caule espinhoso, formando uma espécie de tampinha e a guardou. Com um pedaço de cano de pvc, desses de plástico que se usa no encanamento de casas, picotado nas extremidades, ela foi perfurando o miolo da fruta e estraçalhando toda polpa. O conteúdo foi desejado em uma vasilha que recebeu uma quantidade de gelo e leite condensado. Depois, tudo foi misturado e voltou para o copo, este formado com o que sobrou do abacaxi.

Dona Maria serve o caipixi, uma saborosa bebida de abacaxi


O toque final é quando o cálice natural recebe de volta a tampa acrescida de um canudinho. Nessa hora, o cliente já espera com água na boca. O que fiz foi provar e deliciar-me frente à bela paisagem da lagoa que vai ao encontro do mar. ”Qualquer um pode fazer em casa, mas o charme é tomar aqui na praia”, garantiu Maria.

De pai para filho - cont. GR Marataízes

Na região as profissões de pescador e motorista são passadas de geração a geração


No ônibus a caminho para Itapemirim conheci o motorista Geraldo Almeida. A condução é numa dessas linhas interestaduais que cortam a cidade e vai em direção a outros lugarejos do litoral. Durante o trajeto vamos conversando sobre a cidade e o motorista me expôs um pouco de sua vida.

Almeida nasceu em Itapemirim e hoje mora em Marataízes. Ele reclamou que quem nasce naquela região não tem muita opção de vida. “Aqui ou você é pescador ou motorista”, contou. O rapaz disse que começou nessa carreira trabalhando com a venda de abacaxi pelo Brasil. Hoje continua a rodar o país, mas como motorista de uma grande empresa rodoviária.

O papo foi interrompido com a minha descida em Itapemirim. A viagem ficou como cortesia e eu ainda ganhei uma dessas revistas de celebridades para se ler em passeio.

Em Itapemirim, a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Amparo foi construída por escravos no século XIX


O que chamou a atenção foi a hospitalidade e a generosidade que esteve presente nas pessoas das quais eu convivi naquele final de semana.

Desci na praça histórica em frente à Igreja de Nossa Senhora do Amparo, construída por escravos comandados pelo missionário Casanova e inaugurada em 1855. Como estava fechada, segui passando pelas exuberantes palmeiras imperiais em direção ao Rio Itapemirim.


"Meu pai ensinou o valor da pescaria. É com ela que estou construindo minha família e apesar das dificuldades, pretendo, também, ensinar o ofício aos meus filhos"


E foi lá na beira do Rio que dá nome ao município que encontrei o pescador Adelson da Silva, 53 anos, um senhor de feições físicas calejadas pelo sol e pela maresia. Silva estava tranquilamente remendando uma rede com o filho Weder Marvila da Silva, 25, às margens daquelas águas de cor barrenta.

Os dois disseram que vivem da pesca. O pai afirmou que já foi do norte ao sul do Brasil pescando. Para ele a pesca é tudo. “Foi através dela que consegui criar meus filhos e construir o que tenho hoje para viver”, garantiu.


Weder aprendeu com o pai o valor da pescaria



Já o filho jurou que o que aprendeu com o pai pretende continuar passando adiante. “Meu pai ensinou o valor da pescaria. É com ela que estou construindo minha família e apesar das dificuldades, pretendo, também, ensinar o ofício aos meus filhos”, destacou.

O brilho da Pérola Sul está ofuscado - cont. GR Marataízes

Mesmo com a ação erosiva do mar, Marataízes ainda tenta sobreviver e ter de volta o brilho de cidade turística

Apesar de ter sido registrada há pouco mais de dez anos, ela não é mais uma menina. Já é uma velha senhora descuidada pelo tempo e sofrida pelo desmazelo de seus filhos. Tempos atrás era considerada como a “Pérola Sul Capixaba”, mas hoje luta para não perder esse posto tão disputado no litoral capixaba. Rodeada por belas praias, Marataízes batalha para ter de volta o brilho que lhe foi ofuscado.

A praia Central, a mais famosa do balneário, foi castigada com a ação erosiva do mar. O que se vê são pedaços de concretos espalhados pelo mínimo de areia que a todo instante é banhada pelas águas salgadas.

Para quem viu e curtiu aquele lugar há alguns anos sente um saudosismo ao ver que aquela escada de madeira que levava para a aquela barraca à beira-mar não existe mais, foi levada pelo senhor das águas. O que restou foram pedaços de cimento e brita que insistem em resistir e permanecer ali ao lado dos coqueiros.

Com a erosão, a areia sumiu e o que restou foram pedaços de concretos espalhados à beira-mar


Durante um final de semana, munida de uma câmara fotográfica, um caderninho de bolso e uma caneta, percorri alguns trechos dessa estância que me reservou surpresas e encantou-me com suas histórias, sua beleza natural e seus moradores.


A cidade. Marataízes é um balneário localizado na região sul do Espírito Santo, a 127 quilômetros distantes da capital do Estado, Vitória. O município foi emancipado de Itapemirim em 10 de janeiro de 1997. Hoje possui mais de 36 mil habitantes.

Parece pequena, mas são mais de 25 quilômetros de belas praias. Algumas são formadas por paredões rochosos ou cercadas com piscinas naturais. Saindo do centro indo em direção ao Rio de Janeiro, é possível encontrar um cenário paradisíaco.

A origem do nome da cidade é permeada por várias lendas, mas acredita-se a procedência da língua tupi-guarani que significa “água que corre para o mar”, devido as lagoas que vão ao encontro do mar.

As praias desertas são um convite para um bom descanso


Turismo. Logo cedo encontro com Jair Xavier Júnior, um rapaz nativo da região que sonha em um dia ter a praia de volta. “Marataízes não morreu, por aqui ainda há lindos lugares para serem registrados e desbravados. A praia central está em fase de recuperação, mas logo a teremos de volta e os turistas também”, disse Júnior.

Essa recuperação é um projeto do governo Estadual que prevê a construção de duas faixas de pedras mar à dentro, entre os dois quilômetros da praia central. Uma espécie de espigão, como é falada na região. A primeira fase já foi concluída. A extensão de pedras amontoadas em direção ao mar, ao lado da matriz de Nossa Senhora da Penha, chega a proporcionar uma bela vista do litoral.

Para o presidente da Associação Comercial de Marataízes, Abel Alaor Ferreira de Souza, apesar de não ter contabilizado em números e mesmo a associação estando inativa, o prejuízo causado com os destroços na praia central é um problema que convivem há alguns anos. “Os estabelecimentos que dependem do turismo na região sofrem com essa dificuldade desde 2003. Toda a cidade foi afetada, o turismo caiu e consequentemente tivemos baixas comerciais”, afirmou Souza.


"Talvez a pérola esteja um tanto ofuscada, mas em breve ela voltará a brilhar"


Progresso. O presidente da Associação acredita que esses problemas já estão sendo superados com as obras de recuperação da orla. “Nossa preocupação é o centro da cidade. Esses contratempos serão superados em breve e a cidade voltará a crescer. Com os espigões teremos a areia de volta. E o nosso turismo prosperará”, sonhou.

Ele afirmou ainda que, com a descoberta do petróleo o progresso chegará a cidade. Para Ferreira os royalties¹ são a expectativa de melhoria para o município. “Com a descoberta de petróleo no nosso litoral, os imóveis já começaram a valorizar e o serviço de veraneio será adaptado para atender as futuras demandas da região”, acrescentou.

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¹Link: Royalties são uma compensação financeira devida ao Estado pelas empresas concessionárias produtoras de petróleo e gás natural no território brasileiro e são distribuídos aos Estados, Municípios, ao Comando da Marinha, ao Ministério da Ciência e Tecnologia e ao Fundo Especial administrado pelo Ministério da Fazenda, que repassa aos estados e municípios de acordo com os critérios definidos em legislação específica. Fonte: www.anp.gov.br

Enquanto o progresso não vem, a cidade tem uma luta diária para manter o comércio em atividade. Os hotéis, mesmo com a falta de turistas, ainda continuam abertos. O que se vê ao caminhar pela cidade são pontos das mais diversas construções. Algumas estradas estão sendo calçadas e a população dos bairros cresce a cada dia.

Mesmo com o brilho ofuscado a cidade proporciona um amanhecer espetacular


Para uma cidade de veraneio litorâneo, o comerciante assegura que mesmo com a queda no comércio e o difícil momento que os hotéis vivem com a falta de turistas, o movimento aumenta no verão e o que ganham na temporada, tentam sobreviver durante o resto do ano. Para Souza, mesmo que a cidade não volte a ser como antes, ela ainda será referência de turismo no Estado . “Talvez a Pérola esteja um tanto ofuscada, mas em breve ela voltará a brilhar”, avaliou.

Grande Reportagem (GR) - Marataízes

Há tempos sonhava em fotografar e escrever uma reportagem sobre a cidade que foi referência durante toda minha infância e adolescência. Marataízes é conhecida como a “Pérola Sul Capixaba” para o Espírito Santo e para o Brasil, mas para os cachoeirenses ela é o quintal de casa. Uma espécie de refúgio nos dias de sol e calor. Depois, de certa idade é comum os anciãos da terra do rei Roberto Carlos fazerem da cidade litorânea a residência fixa.

Foram anos curtindo as férias de julho e o verão na cidade. Morei no litorial entre os anos de 1992 e 1999. Desde 2000 volto apenas para visitar os meus pais, os velhos amigos e me refugiar dentro de casa ou à beira de uma praia, mais distante, para ler um livro.

Quando fui embora da Marataízes, a praia ainda tinha areia e eu podia dar uma corrida em algumas manhãs para contemplar o nascer do sol. A beira-mar da cidade foi ocupada de maneira desordenada. Aliás, parte da cidade foi ocupada dessa forma. Os terrenos não são bem divididos e as ruas costumam ser bem confusas. Uma hora tem rua outra hora tem moradia e assim vão construindo a cidade. Depois da emancipação em 1997, aparentemente deu uma organizada. Mas as condições de transporte coletivo, saúde e infra-estrutura em geral são precárias.

A partir de 2003 começou a ação erosiva do mar e areia foi embora prejudicando o turismo e o comércio local. Mesmo com todas as dificuldades o lugar não deixou de crescer. É grande o número de novos habitantes. O anúncio do progresso para a região, com a descoberta de petróleo, tem atraído pessoas e gerado expectativas.

Os nativos têm um linguajar bem característico. São pessoas humildes e generosas.

Durante um final de semana busquei rever a cidade de uma outra maneira, não mais como uma simples turista, mas com um olhar de uma futura profissional do jornalismo. A experiência foi gratificante e produtiva.

sábado, 12 de julho de 2008

Quase uma derradeira amante

Ah, como ela é linda!

Há tempos estava de olho nela, mas sequer me olhava. Alguns amigos já diziam que ela dava bola para mim. Mas, eu não percebia por sofrer desse impiedoso complexo de inferioridade. Vá entender?

A bem da verdade era que eu não queria admitir que estivesse afim. Sabe essa história de não dar o braço a torcer? Mais ou menos isso.

Todos afirmavam que ela era a dona da vez.

Sempre quando ia ler um jornal, a primeira manchete que pulava a minha frente era a dela. O que eu podia fazer? Parecia que ela me perseguia. Estava presente na maior parte dos meus afazeres.

Difícil acreditar. Até por que ela é conhecida na mais alta classe intelectual. Bem vivida, madura, é detentora de um vocabulário majestoso. É temida por muitos e amada por tantos outros. O que iria querer comigo?

De personalidade abstrata deixa qualquer um envolto e perdido em suas formulações matemáticas, assim como me deixou. Ela é completamente racional, mas ao mesmo tempo, seu comportamento se altera a ponto de causar um rebuliço na cabeça de qualquer interessado.

Ela é antipática, não faz questão de ser simpática. É abusada e sabe do seu poder de sedução. É capaz de enlouquecer a cabeça de qualquer um.

Lembro-me que antes de conhecê-la, sabia de um camarada que poderia me apresentá-la, logo em breve. O problema era que a fama dele não era nada agradável: carrasco e mau caráter, quase um cafetão. Diziam-me que o preço para ficar com ela era muito caro. Só os bons eram aprovados por ele. A fama de mau era forte e aparentemente ele não faz questão de ser o contrário. Despreza tais comentários. Daí eu pensava: __ Como vou fazer para me aproximar do tal?

Já havia tentado conhecê-la de outras formas, mas as tentativas não foram bem sucedidas.

A vontade virou quase uma obsessão. Tive que esperar mais de seis meses para, então, compreender a dinâmica das decisões do tal camarada. Agentes internos intermediaram nosso encontro que passou a ser semanal. A cada dia ele tentava facilitar a linguagem dela para mim, de modo que eu pudesse compreendê-la para tentar conquistá-la.

Talvez, aquele moço não fosse tão cruel. Acredito que ele não queira deixá-la à mostra. Ela é fina, não é para qualquer medíocre pretensioso.

Nosso caso, paquera, namoro, sei lá o quê, já dura uns quatro meses. Queria assumi-la, ter algo mais sério. Afinal, é grande a paixão que sinto por ela. Mas, eventualmente estamos em crise. E paixão é algo passageiro. Não dá para levar adiante um relacionamento assim. Vamos dar um tempo. Não posso ser só dela, nem ela só minha.

Acredito que para entender e ficar com ela, a Economia, será preciso questionar quais serão minhas opções e expectativas de carreira. Ainda é cedo. Terei outros amores e ela outros amantes.

Prefiro pensar que terei o privilégio de reencontrá-la mais tarde. Enquanto isso, o sarcástico rapaz “algoz” irá apresentá-la a tantos outros que puderem brindá-la.